domingo, 29 de janeiro de 2012

Homem com cachimbo e caixa de fósforos


"Homem com cachimbo e caixa de fósforos na mão".  
Macau, anos 1930-40 do século XX
Fotografia de José Neves Catela do catálogo Macau. Memórias Reveladas. Museu de Arte de Macau, 2001

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Felicidade chegou!


"(...) E lá continuaram o seu passeio, parando aqui e ali, apreciando as lojas, as tendinhas das flores e dos enfeites para as casas. Séries de balõezinhos chineses, estilo luzes de árvore de Natal, quadros com frases auspiciosas, figuras em cartão irradiando vermelho e dourado, talismãs, cartões de boas festas, pacotes de lai si, almanaques para o novo ano e papéis vermelhos com o carácter de felicidade a dourado. Talvez por este ser o mais visto à porta de todas as casas, e mesmo colado nas janelas interiores, foi o que gerou um diálogo imediato.
- Mas por que é que o carácter de felicidade colado nas portas está sempre de cabeça para baixo?
- Ó Rubi, é para dar sorte!
- E fica tudo explicado, não é? Para o Zé é tudo muito fácil, é para dar sorte e pronto! - apontou o Jotê, esperando uma justificação mais convincente que isso do "dar sorte!" estava muito bem mas, já agora, se fosse possível saber o por quê da cabeça para baixo...
- É muito fácil - disse Lao com a firmeza de quem sabe.
- É fácil porque tu sabes... mas nós não... já ouvi tanta história... umas com um espelho... outras dizendo que estando ao contrário a felicidade não foge... eu sei lá! Mas... verdade, verdadinha, acho que ninguém sabe lá muito bem o por quê...
Lao respondeu à reflexão da Marei e, levantando os dois braços como que pedindo atenção, com ar de sôtor, calmamente explicou:
- Estar virado ao contrário, é estar invertido, não é meus meninos? Ora bem... os verbos inverter e chegar têm, em chinês, a mesma pronúncia, o mesmo som... e assim... tudo se explica não é verdade?
- Cá para mim parece-me que não se explica nada! - foi a vez de Guta entrar na onda.
- Ah não? Então quando chegas a casa de alguém e vês o carácter de felicidade de pernas para o ar, o que dizes?
- Não digo nada, se as pessoas o puseram assim, aliás todos o fazem da mesma maneira, é porque é seu uso, eles lá sabem porque o fazem...
- Bom, está bem. Pois claro, tirando isso, se dissesses alguma coisa, o que dirias?
- Está bem, está bem... pronto... já que queres faço-te a vontade... Pois diria: oh senhor! - e virando-se para a assistência - ou senhora, não é? Olhe que a sua felicidade está invertida! E depois?...
- Ora que espertinho que é o nosso Guta, é isso mesmo, como o som é igual tu disseste: A Felicidade chegou!  (...)"
Fernando Sales Lopes. Terra de Lebab. Instituto Português do Oriente, 2008 

domingo, 22 de janeiro de 2012

Kung Hei Fat Chói! Lai Si Tau Lói!




"Ainda pela cidade andam no ar as músicas de Natal, e já as melodias tradicionais chinesas anunciam a chegada do Ano Novo Lunar.
Nos arcos festivos, nas fachadas dos prédios e hotéis faz-se a troca de Pais-Natal por deuses de boa sorte, Meninos Jesus por meninos e meninas de garridas cores e luzidias tranças com as mãos sobrepostas em sinal de agradecimento, estrelas por sapecas douradas, velas por carpas, carneirinhos por coelhinhos, palmeiras por frutas das mais variadas, fitas por panchões a fingir. E milhares de coloridas lâmpadas alternando com autênticas cortinas de prata, descendo dos prédios em fios de pequeninas luzinhas.
Mais uma vez chega a festa da renovação, que aqui marca o fim do Inverno e o início da Primavera. Por isso esta festividade também é conhecida como o Festival da Primavera e daí as flores serem tão importantes. Pelas ruas começam a surgir tendinhas vendendo hastes e ramos floridos de pessegueiro, camélias, bolbos de narcisos, crisântemos amarelos, brancos e vermelhos. E também laranjeiras e tangerineiras em miniatura.
O, por vezes ensurdecedor, rebentar constante de panchões que deixam as ruas atapetadas de vermelho - da cor da alegria, da felicidade, da festa. A cor com que se afugentam o espíritos e se vestem as noivas.
É o Kung Hei Fat Chói, para a direita e para a esquerda, numa azáfama de sorrisos, compras, renovações totais, e cara lavada em tudo quanto é casa, estabelecimento ou espaço comum. Nada de velho para o que é novo. Aí vem o novo ano. Há que recebê-lo limpo, renovado, honrando homens e deuses. Não se pode andar devagar - o mês que dura a quadra parece pequeno para tanto que tem de ser feito, preparativos que têm de ser cumpridos à risca (...)".
 Fernando Sales Lopes. Terra de Lebab. Instituto Português do Oriente, 2008

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Kung Hei Fat Choi!

Templo de A-Má. Vésperas do Ano Novo Lunar, 2012

KUNG HEI FAT CHOI!* 
E o panchão* estoira poderoso
a afastar o mau espírito
de ver este universo imenso em derredor
com o óculo estreito
da longínqua Europa
KUNG HEI FAT CHOI!
O meu ano novo não é o teu ano novo
e o envelope vermelho do lai si*
é para dizer-te que recomeço contigo este caminho
de um novo ciclo da vida a percorrer
Carlos Frota. Dos Rios e suas Margens. Macau, 1998 

* Forma de exprimir os votos de Feliz Ano Novo Chinês, em cantonense.
* Panchão - torcida de papel, munida de explosivo que, ao estoirar, "afasta os maus espíritos".
* Lai si - Envelope vermelho, contendo uma quantia simbólica em dinheiro, que é dado de presente por ocasião do Novo Ano Chinês.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Xilogravuras do Ano Novo Lunar (3)

"Dupla felicidade e as cinco benções visitam esta casa"
Gravura de porta. Fim da Dinastia Qing e início do Período Republicano.

"A dupla felicidade é simbolizada por duas pegas representadas na gravura. As cinco benções são a longevidade, riqueza, saúde, virtuosidade e recompensa com uma morte boa (morte natural, não violenta)."
in Xilogravuras do Ano Novo Lunar. Instituto Português do Oriente, Macau, 1992

Xilogravuras do Ano Novo Lunar (2)

"Falcão celestial defendendo uma residência dos espíritos maus"
Reinado do Imperador Qian Long, Dinastia Qing


"Segundo os costumes chineses, quando um homem é possuído por uma raposa ou doninha, perde a consciência. Todavia, se a gravura de um falcão celestial for afixada na parede, próximo de uma janela, o ocupante da casa tem muitas probabilidades de não ser atingido por nenhuma calamidade.  A gravura, uma pintura do género, contém cenas das celebrações do Ano Lunar (superior) e de um falcão celestial a guardar a casa (inferior). A gravura ilustra um homem que, possuído por uma doninha, recupera depois de o falcão celestial apanhar a doninha".
in Xilogravuras do Ano Novo Lunar. Instituto Português do Oriente, Macau, 1992

Xilogravuras do Ano Novo Lunar (1)


"O veado e a garça vivem mesma Primavera para sempre" 
Gravura para afixar na extremidade mais aquecida da cama de tijolo.
Dinastia Qing
in Xilogravuras do Ano Novo Lunar. Instituto Português do Oriente, Macau, 1992

Gravura alusiva ao Ano Novo Lunar para ser afixada nas camas de tijolo que, aquecidas por uma lareira,  durante o dia servem de local de trabalho e à noite para dormir. As paredes das camas de tijolo são normalmente decoradas com gravuras.
Saudando o início do novo ano, nesta gravura são utilizados elementos que transmitem mensagens de boa sorte e felicidade. O veado e a garça simbolizam as seis harmonias, bem como as seis orientações: Norte, Sul, Este, Oeste, para cima e para baixo. As seis harmonias significam os três meses do Outono que se encontram em harmonia com os três meses da Primavera. Do mesmo modo, os três meses do Verão também se encontram em harmonia com os três meses do Inverno.